Como a Escola Dominical Contribui para a Formação das Crianças

5 Benefícios que os Pais Precisam Conhecer

Como a Escola Dominical Contribui para a Formação das Crianças: 5 Benefícios que os Pais Precisam Conhecer

Mais do que ensino bíblico, a Escola Dominical forma valores, constrói identidade cristã e prepara crianças para os desafios éticos e sociais do século XXI. Pompilho Miguel

Introdução

Num país onde a infância é constantemente desafiada pela desigualdade, pela violência e pela fragilidade de políticas públicas eficazes de educação e cultura, é na simplicidade das salas de Escola Dominical que muitas crianças encontram não apenas a Palavra de Deus, mas também o sentido da vida, a segurança emocional e a base moral para enfrentar o mundo.

A Escola Dominical, muitas vezes marginalizada nos planejamentos eclesiásticos modernos, é uma das instituições pedagógicas cristãs mais antigas e influentes do mundo. Surgida na Inglaterra do século XVIII, com Robert Raikes (1736–1811), como resposta à negligência educacional das crianças operárias, a Escola Dominical logo se espalhou, alcançando também o Brasil no século XIX.

Robert (1809–1888) e Sara Kalley (1825–1907) são considerados os fundadores da Escola Dominical no Brasil, tendo dirigido a primeira aula em 19 de agosto de 1855, na cidade imperial de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Embora já houvesse reuniões de Escola Dominical antes de 1855, organizadas por membros da comunidade americana no Rio de Janeiro, essa foi a primeira aula aberta ao público brasileiro.

Mas por que, em pleno século XXI, ainda insistir em ensinar crianças sobre figuras como Moisés, Ester e Jesus, com cartolinas e histórias ilustradas? Neste artigo, destacamos cinco benefícios centrais da Escola Dominical que justificam plenamente sua relevância para a formação integral das crianças.

1. Formação Espiritual desde a Primeira Infância

A Bíblia é clara ao afirmar: “Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles” (Provérbios 22.6, NVI). A infância é, sem dúvida, o terreno mais fértil para a semeadura da fé. Neurocientistas, como os pesquisadores da Universidade de Harvard, demonstram que as experiências vividas nos primeiros anos de vida — especialmente até os sete anos — moldam profundamente a personalidade, os valores e o senso de pertencimento. Nessa fase, o cérebro encontra-se em pleno desenvolvimento, o que torna a criança especialmente sensível a estímulos positivos e vulnerável a traumas e adversidades (ACEs – Adverse Childhood Experiences).

Nesse cenário, a Escola Dominical desempenha um papel insubstituível. Mais do que ensinar histórias bíblicas, ela oferece um espaço contínuo de convivência com o sagrado, promovendo uma familiaridade com o Evangelho que dificilmente se alcança apenas com a pregação dominical. É discipulado constante — não mero entretenimento espiritual.

No contexto brasileiro, especialmente nas comunidades mais vulneráveis, a Escola Dominical se revela ainda mais relevante: em muitos casos, é o único ambiente onde a criança ouve que é amada incondicionalmente — por Deus e por uma comunidade que a acolhe com fé e afeto.

2. Educação Moral e Ética em um Mundo de Incertezas

Enquanto as escolas lutam para lidar com bullying, intolerância e violência, a Escola Dominical forma consciências. Por meio de parábolas, personagens bíblicos e experiências comunitárias, as crianças aprendem sobre perdão (Mateus 18.21–22), honestidade (Efésios 4.25) e justiça social (Isaías 1.17).

Alguém já disse: “Educar sem valores é apenas treinar pessoas mais inteligentes para serem ainda piores.” A Escola Dominical, portanto, não é apenas um espaço religioso — é um verdadeiro laboratório de formação ética.

Esse modelo de educação integral também encontra eco no relatório Educação: Um Tesouro a Descobrir (Delors, 2010), da UNESCO, que propõe uma formação baseada em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. A Escola Dominical, mesmo em sua simplicidade, atende a todos esses pilares — ela ensina conteúdos bíblicos (conhecer), forma atitudes e hábitos cristãos (fazer), incentiva a convivência e a solidariedade (viver juntos) e, sobretudo, contribui para o desenvolvimento da identidade espiritual e moral da criança (ser). Ao unir fé e prática, torna-se, nesse sentido, um modelo complementar de educação integral.

Igrejas que investem na Escola Dominical não estão apenas pregando — estão prevenindo crises sociais.

3. Desenvolvimento Cognitivo e Leitura Crítica da Bíblia

Ao contrário da crença comum, a Escola Dominical não forma apenas “crentes obedientes”, mas também leitores críticos da fé. Crianças que aprendem, desde cedo, a interpretar textos bíblicos desenvolvem a capacidade de pensar simbolicamente, comparar narrativas e aplicar ensinamentos à realidade concreta.

No Brasil, onde os índices de leitura estão em declínio — 53% da população com 5 anos ou mais (cerca de 107,6 milhões de pessoas) não leu nenhum material publicado pelo mercado editorial, segundo a pesquisa Retratos da Leitura (Instituto Pró-Livro, 2024) — a Escola Dominical se revela uma verdadeira trincheira de resistência cultural e educativa.

Além disso, o contato sistemático com as Escrituras contribui para o enriquecimento do vocabulário, a ampliação da interpretação textual e o fortalecimento da memória, com reflexos positivos no desempenho escolar. O uso de dramatizações, músicas e jogos bíblicos favorece o desenvolvimento cognitivo, como já apontava Piaget (1976) ao destacar o papel do jogo simbólico na aprendizagem infantil.

4. Fortalecimento de Vínculos Familiares e Comunitários

A Escola Dominical é, por excelência, uma ponte entre família e igreja. Quando os pais se envolvem — seja levando seus filhos, ajudando como voluntários ou acompanhando os temas estudados — cria-se uma espiritualidade compartilhada, em que a fé não é apenas do “pastor” ou da “igreja”, mas vivida em casa.

No cenário brasileiro, marcado por famílias cada vez mais fragmentadas, a Escola Dominical oferece uma rotina de cuidado coletivo. As crianças encontram figuras de referência, aprendem a conviver com diferenças, a esperar sua vez, a orar umas pelas outras.

É nesse ambiente que o amor cristão se torna visível, palpável e prático. O apóstolo Paulo exorta: “Suportem-se uns aos outros com amor” (Efésios 4.2). Essa lição só se aprende no convívio — e a Escola Dominical é uma das melhores oportunidades para isso.

5. Preparação para Enfrentar os Desafios do Século XXI

Vivemos em tempos de aceleração tecnológica, mudança de valores e aumento da ansiedade infantojuvenil. Crianças são expostas precocemente a temas complexos e muitas vezes não têm ferramentas espirituais ou emocionais para lidar com essas pressões.

A Escola Dominical ajuda a formar uma cosmovisão bíblica, capaz de dar sentido à realidade. Ao aprender sobre a soberania de Deus (Salmo 103.19), sobre o propósito da vida (Jeremias 29.11) e o valor do próximo (Mateus 22.39), a criança constrói um “mapa interno” que a ajudará por toda a vida.

Como afirmou Ayrton Senna, um dos maiores ícones nacionais: “Se quisermos mudar nossa nação, é pelas crianças que devemos começar.” A Escola Dominical não está formando apenas membros da igreja — está formando cidadãos do Reino.

Conclusão

A Escola Dominical é uma das expressões mais nobres do compromisso da igreja com o futuro. Ela não substitui os pais, nem resolve todos os desafios sociais — mas é uma ferramenta de valor inestimável para semear esperança, fé e virtudes no coração das novas gerações.

Em um Brasil marcado por urgências, a Escola Dominical oferece o que há de mais urgente: formar pessoas integrais, com fé sólida e compromisso com o bem. Redescobri-la é reencontrar o papel pedagógico da igreja e o chamado de Jesus para “deixar vir a Mim as crianças” (Marcos 10.14).

Fontes e Referências:

AYRTON SENNA INSTITUTO. Ayrton Senna: legado. Disponível em: https://institutoayrtonsenna.org.br/ayrton-senna-legado/. Acesso em: 06 jun. 2025.

BÍBLIA. Bíblia Sagrada: Nova Versão Internacional. Rio de Janeiro: Editora Thomas Nelson Brasil, 2025.

PIAGET, Jean. O Julgamento Moral na Criança. São Paulo: Summus, 1976.

DELORS, Jacques (org.). Educação: um tesouro a descobrir – Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. 2. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2010.

VEJA. Pesquisa aponta que mais da metade dos brasileiros não lê livros. Veja, 14 mar. 2024. Disponível em: https://veja.abril.com.br/cultura/pesquisa-aponta-que-mais-da-metade-dos-brasileiros-nao-le-livros. Acesso em: 22 jun. 2025.

CENTER ON THE DEVELOPING CHILD – HARVARD UNIVERSITY. ACEs and toxic stress: frequently asked questions. Disponível em: https://developingchild.harvard.edu/resources/infographics/aces-and-toxic-stress-frequently-asked-questions/. Acesso em: 22 jun. 2025.

SISTEMA EBD. A história do ensino dominical no Brasil e no mundo. Disponível em: https://sistemaebd.com.br/a-historia-do-ensino-dominical-no-brasil-e-no-mundo. Acesso em: 22 jun. 2025.

Pompilho Miguel Alves da Silva é Ministro do Evangelho (CONFRADESP/CGADB) e coopera como evangelista na Assembleia de Deus – Ministério do Belém, Setor 19, em Guarulhos (SP). Bacharel em Teologia pela EETAD/FAETAD, licenciado em História pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, designer gráfico, editor, revisor de obras e professor de Teologia na FAESP.