Jesus, o Cordeiro de Deus que Tira o Pecado do Mundo

Por: Ev. Emerson da Silva Oliveira Santos

1. Introdução: A Declaração de João Batista

A identidade de Jesus como "Cordeiro de Deus" é proclamada de forma solene e pública por João Batista no início do ministério de Cristo:

"No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." (João 1:29, ARC)

E no dia seguinte, ele repete a declaração para seus próprios discípulos:

"E, outra vez, no dia seguinte, estava João e dois dos seus discípulos. E, vendo passar a Jesus, disse: Eis aqui o Cordeiro de Deus!" (João 1:35-36, ARC)

Esta não foi uma declaração casual, mas uma revelação divina que João recebeu como sinal para identificar o Messias (João 1:33). Para entender a profundidade dessa afirmação, precisamos mergulhar no Antigo Testamento, no contexto histórico judaico do 1º século e na teologia que ela carrega.

2. Contexto Histórico no Antigo Testamento

A imagem do cordeiro como sacrifício pelos pecados era central na vida religiosa e na identidade do povo de Israel.

a) O Cordeiro Pascal (Êxodo 12):

A história do Cordeiro se inicia na Páscoa. Quando Deus libertou Israel da escravidão no Egito, ordenou que cada família tomasse um cordeiro sem defeito.

"O cordeiro, ou cabrito, será sem defeito, macho de um ano [...] e guardareis até ao décimo quarto dia deste mês, e toda a assembleia da congregação de Israel o matará à tarde. E tomarão do sangue e pô-lo-ão em ambas as ombreiras e na verga da porta, nas casas em que o comerem." (Êxodo 12:5, 6-

7, ARC)

O sangue do cordeiro inocente, aspergido nas portas, foi o que protegeu as casas dos israelitas do juízo de Deus (a morte dos primogênitos). A Páscoa tornou-se a festa mais importante do calendário judaico, celebrada anualmente para lembrar a libertação providenciada por Deus. Jesus, o Cordeiro de Deus, foi crucificado exatamente durante a celebração da Páscoa (Mateus 26:2), cumprindo perfeitamente seu simbolismo.

b) O Sistema de Sacrifícios (Levítico):

A Lei mosaica estabelecia que o perdão dos pecados exigia derramamento de sangue, uma substituição penal.

"Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará expiação pela alma." (Levítico 17:11, ARC)

Diversos sacrifícios envolviam cordeiros, especialmente o sacrifício contínuo (Êxodo 29:38-42) e o sacrifício pela culpa (Levítico 14:12-13). Esses animais precisavam ser "sem defeito" (1 Pedro 1:19), prefigurando a perfeição e imaculabilidade de Jesus.

c) A Profecia do Cordeiro Sofredor (Isaías 53):

O profeta Isaías, séculos antes de Cristo, pintou um quadro vívido do Messias não como um rei conquistador político, mas como um servo sofredor que carregaria os pecados do povo. A linguagem é explicitamente sacrificial.

"Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro e, como a ovelha, muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca." (Isaías 53:7, ARC)

"Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, nós fomos sarados." (Isaías 53:5, ARC)

"E ele levou sobre si o pecado de muitos e intercedeu pelos transgressores."

(Isaías 53:12, ARC)

Esta profecia conecta diretamente a ideia de um cordeiro com a expiação (pagamento) pelos pecados da humanidade.

3. Contexto Teológico no Novo Testamento

O Novo Testamento expande e aplica ricamente o título de "Cordeiro de Deus", mostrando como Jesus cumpriu toda a tipologia do Antigo Testamento.

a) O Cordeiro sem Defeito e sem Mácula:

A perfeição de Cristo é reiterada constantemente. Ele era o sacrifício perfeito que a Lei exigia, mas nunca podia fornecer permanentemente através de animais.

"Mas, com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado" (1 Pedro 1:19, ARC)

"Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime do que os céus" (Hebreus 7:26,

ARC)

b) O Cordeiro Pascal (Páscoa):

Os apóstolos entendiam perfeitamente que Jesus era a realidade final da qual o cordeiro pascal era apenas uma sombra.

"Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós." (1 Coríntios 5:7, ARC)

Aqui, Paulo faz a conexão direta e inequívoca: Cristo é nossa Páscoa. O Seu sacrifício nos liberta da escravidão do pecado e do juízo de Deus.

c) O Cordeiro que Tira o Pecado (Expiação):

A obra de Jesus na cruz foi única, definitiva e suficiente. Diferente dos sacrifícios levíticos que precisavam ser repetidos incessantemente, o sacrifício de Cristo foi feito "uma vez por todas".

"Mas este [Jesus], havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus" (Hebreus 10:12, ARC)

"E andai em amor, como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave." (Efésios 5:2, ARC) A expressão "tira o pecado" (João 1:29) no original carrega o sentido de "carregar sobre si e remover". Jesus não apenas cobriu o pecado, mas o removeu completamente daqueles que nEle creem.

d) O Cordeiro Vitorioso e Eterno (Apocalipse):

O livro de Apocalipse revela a cena celestial, onde o Cordeiro que foi morto é agora adorado por toda a criação por causa de Sua obra redentora. Ele é simultaneamente o sacrificado e o soberano.

"E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião [...]" (Apocalipse 14:1,

ARC)

"E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda a tribo, e língua, e povo, e nação." (Apocalipse 5:9, ARC)

"E não vi templo nela, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro." (Apocalipse 21:22, ARC)

A vitória final pertence ao Cordeiro. Ele reina eternamente, e o Seu sacrifício é o fundamento do novo céu e da nova terra.

4. Conclusão: Implicações para a Fé Cristã

A declaração "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" é, portanto, uma das mais densas e significativas de toda a Bíblia. Ela nos ensina que:

1. Substituição: Jesus morreu em nosso lugar, recebendo o castigo que nossos pecados mereciam.

2. Expiação: Seu sangue é o único meio eficaz para perdoar pecados e reconciliar a humanidade com Deus.

3. Finalidade: Seu sacrifício foi único e completo. Nada precisa nem pode ser acrescentado a ele.

4. Proclamação Universal: Ele é o Cordeiro "do mundo". A salvação que Ele providencia é oferecida a toda a humanidade, judeus e gentios, embora seja aplicada apenas àqueles que creem (João 3:16).

5. Adoração: Nossa resposta a essa verdade deve ser de fé, gratidão e adoração contínua ao Cordeiro que foi morto e que agora reina para sempre.

João Batista apontou para Ele. Os apóstolos pregaram sobre Ele. A Igreja celestial O adora. Que nós também, hoje, contemplemos e confiemos plenamente nAquele que é o Cordeiro de Deus.

Referências Bibliográficas

BÍBLIA SAGRADA. Almeida Revista e Corrigida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.

CARSON, D. A. O Comentário de João. 1ª ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2017.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: João. 1ª ed.

São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida Nova, 1999.

STOTT, John R. W. A Cruz de Cristo. 1ª ed. São Paulo: Editora Vida, 2006.