Lição 03 – O corpo e as consequências do pecado
Por: Coop. Geisel de Paula
Texto base: Gênesis 3.17-19; Eclesiastes 12.1-7
Costumamos dizer que a maior consequência do pecado é a morte, afinal de contas, foi isso que Deus prometeu ao primeiro casal: ‘...certamente morrerás’, e é dito por Paulo que ‘o salário do pecado é a morte’ em Romanos. Mas também é fato de que a morte como fim de um ciclo não deixa de ser uma bênção, pois sem ela nossos pais caídos e consequentemente nós pecaríamos por toda a eternidade, visto que mesmo redimidos, continuamos a pecar. Em certo sentido a morte veio para dar fim a um ciclo e iniciar outro. Até Jesus, que não pecou, precisou morrer, através do nosso pecado, é bem verdade, mas passou pelo mesmo processo que todos nós iremos passar um dia.
O comentarista Silas Queiroz relata: “A expressão “até que tornes à terra” abrange a jornada de agruras do ser humano em toda a existência terrena, o que inclui trabalhos penosos e debilidades do corpo, cicatrizes e pancadas, rugas e fraqueza, encurvamento e esquecimento, senilidade e debilidade, até a sentença finalmente ser cumprida com o seu tombamento ao solo de onde foi tirado. E o homem volta a ser simplesmente pó: “és pó e em pó te tornarás”. Triste fim para quem fora criado para viver eternamente em comunhão com o Criador”. Fico me perguntando se Deus, sabedor de tudo, de que o homem iria cair, já o fez de uma matéria prima tão singela e rudimentar. Se fôssemos ficar imortais mesmo, talvez nossa estrutura deveria ser outra. Se o pecado não tivesse entrado no mundo até hoje, já teríamos ultrapassado 108 bilhões de seres humanos, e o planeta Terra teria há muito, colapsado.
Segundo o comentarista Silas Queiroz: “Nosso foco aqui ê tratar das dores manifestadas no corpo, decorrentes de fatores imateriais e materiais. O ambiente tornou-se adverso, amaldiçoado por causa da transgressão de Adão (Gn.3.17,18,22-24). A beleza orgânica e a sua funcionalidade foram alteradas: a terra passou a produzir espinhos e ervas daninhas (Gn.3.18). A indizível sensação de bem-estar que o homem desfrutava, oriunda de Deus e que fluía em todo o seu ser (Gn.2.7,25;Jó 33.4), foi substituída por inadequação, vergonha, culpa, medo, angústias e tristezas. Todo esse complexo de problemas seria somado para promover padecimento e degeneração no corpo, culminando com a morte física (Gn.3.19). Um terrível inimigo de todos os homens, nem mesmo todo o cuidado do corpo é capaz de evitá-la. Agora, em tempos de ciência tão avançada, por mais que se cuide do corpo, há um limite para essa vida terrena” (criopreservação de corpos humanos [criogenia]).
Bom, daí podemos pensar: Adianta cuidar da saúde corporal, visto que iremos morrer mais cedo ou mais tarde? Ora, que seja mais tarde, não é mesmo? Devemos zelar por nossa saúde, para que tenhamos um fim de vida com o mínimo de independência e autonomia. Creio que para muitos de nós, é melhor partir para a eternidade do que ficar dando trabalho para os outros. Sinto dizer, mas isso não depende de nós. O que cabe a nós é trabalhar para uma velhice saudável, seja na alimentação (peso ideal), seja no exercício físico (caminhada), seja nas relações (familiares e sociais), seja também no lado espiritual (igreja). Precisamos estar cientes de nossa degeneração física e negar essa realidade não é prudente pois não viveremos uma eterna juventude, como num conto de fadas.
Segundo o comentarista Silas Queiroz, “dentre as muitas patologias identificadas nesses tempos de vida tão agitada e estranha, surgiu uma nova síndrome chamada gerontofobia: um terrível e mórbido medo de envelhecer que causa ansiedade e produz comportamentos incompatíveis com a idade. O envelhecimento, no entanto, nada mais é do que um caminho natural para todo ser humano, não podendo ser diagnosticado como transtorno”. Em sociedades orientais, o velho tem dupla honra e se torna um desrespeito muito grande os mais jovens serem mal-educados com os idosos. No Brasil, acontece o contrário, infelizmente.
Mau uso do corpo
Segundo Queiroz: “As drogas têm sido um dos instrumentos de profunda degradação do corpo. O mais recente relatório mundial sobre drogas divulgado pela ONU (Organização das Nações Unidas), de junho de 2024, expõe o agravamento do problema. Há um surgimento cada vez mais crescente de substâncias entorpecentes ilícitas, provocado por um crescimento do número de dependentes dessas drogas. O resultado é o aumento de transtornos mentais e outros danos à saúde, além de agravar o problema da segurança pública, sem contar a multiplicação dos dramas pessoais e familiares. O relatório aponta que, no ano de 2022, mais de 292 milhões de pessoas usaram drogas, um aumento de 20% em relação à década anterior”.
Ainda Queiroz: “Os perigos na área da sexualidade também crescem, seja entre adultos, sejam entre crianças e adolescentes — estes, os mais vulneráveis. degradação moral não podem ficar no campo do alarmismo ou da teorização. Cabe a cada família, especialmente as cristãs, refletir sobre os seus modelos de vida. A devoção dos pais, em amor responsável, é fundamental para a boa criação dos filhos. O ensino clássico de Provérbios 22.6 é para que os filhos sejam ensinados no caminho que devem andar e não no que querem andar”.
A redenção em Cristo: a recuperação gradual da imagem de Deus – No entanto, é animador abrir o Novo Testamento e ver que nossa redenção em Cristo significa que podemos mesmo nesta vida, gradualmente crescer cada vez mais na semelhança de Deus. Por exemplo, Paulo diz que como cristãos temos uma nova natureza, que “se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl.3:10). Por isso Paulo também diz com muita propriedade que “somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem” (IICo.3:18). Ao longo desta vida, à medida que crescemos em maturidade cristã, aumenta a nossa semelhança a Deus. Mais especificamente, vamo-nos tornando cada vez mais semelhantes a Cristo na nossa vida e no nosso caráter. De fato, Deus nos redimiu para que sejamos “conforme a imagem do seu Filho” (Rm.8:29), tendo assim exatamente o mesmo caráter moral de Cristo.
Na volta de Cristo: a completa restauração da imagem de Deus – A admirável promessa do Novo Testamento é que, assim como somos hoje como Adão (sujeitos a morte e ao pecado), também seremos como Cristo no futuro (moralmente puros jamais sujeitos à morte de novo): “Assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazer também a imagem do celestial” (ICo.15:49). E ainda: “Quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele” (IJo.3:2).
Nossa dignidade como portadores da imagem de Deus – Seria bom se refletíssemos mais frequentemente na nossa semelhança com Deus. É provável que fiquemos surpresos ao descobrir que quando o criador do universo quis fazer algo “à sua imagem”, algo mais semelhante a si do que todo o resto da criação, ele nos criou. Essa descoberta nos dá um profundo senso de dignidade e importância, pois passamos a refletir sobre a excelência de todo o restante da criação divina. O universo estrelado, a terra abundante, o mundo das plantas e dos animais e os reinos dos anjos. Mais nós somos mais semelhantes ao nosso Criador do que qualquer uma dessas coisas. Somos a culminância da obra criadora infinitamente sábia e hábil de Deus. Apesar de ter o pecado maculado profundamente essa semelhança, refletimos ainda hoje boa parte dela e cada vez mais o faremos à medida que crescermos na semelhança de Cristo.
Uma última palavra a dizer sobre a nossa semelhança com Deus é de que todas as raças merecem igual dignidade e direitos. Significa que os idosos, os gravemente doentes, em estado terminal, aqueles que ainda estão em formação nos ventres maternos, os mentalmente retardados, todos merecem plena proteção e respeito como seres humanos. Se algum dia negarmos nossa posição singular na criação como únicos portadores da imagem de Deus, logo passaremos a depreciar o valor da vida humana, e tenderemos a enxergar os seres humanos meramente como uma forma animal superior e começaremos a tratar os outros assim. Também perderemos muito de nosso senso de significado na vida.
Apesar de todo o abatimento e sofrimentos que experimentamos em nosso corpo como consequência do pecado e de nossas próprias transgressões, em Cristo temos a certeza de uma Redenção completa, conquistada por sua obra na cruz do Calvário. Ele nos dará um novo corpo transformado (Ap.2.4-6; 22.2).
Geisel de Paula
BIBLIOGRAFIA
QUEIROZ, Silas. Corpo, alma e espírito – A restauração integral do Ser Humano para chegar à estatura de Cristo. Editora CPAD. Rio de Janeiro. 2025. 1ª Edição.
SUPERINTERESSANTE, Revista. Editora Abril.
https://super.abril.com.br/tudo-sobre/corpo-humano/
FRAME, John M. História da Filosofia e Teologia Ocidental. Editora Vida Nova. São Paulo. 2015. 1ª Edição.


