Lição 07 – Uma Igreja que não teme a perseguição

Texto base: Atos dos Apóstolos 5.25-32; 12.1-5

8/13/20256 min read

Perseguição. Quem aqui gosta de ser perseguido? Um dos primeiros filmes dirigidos por Steven Spielberg foi ‘Duel’, que no Brasil foi traduzido por ‘Encurralado’. O longa de 1971 conta a história de suspense de um homem de negócios que dirige sozinho em uma estrada secundária, quando de repente se vê perseguido por um motorista de caminhão. Depois de algum tempo, ele chega à conclusão de que aquele homem pretende matá-lo. O filme acaba sem mostrar quem é o motorista do caminhão e por qual motivo ele persegue o motorista do carro, mas este se livra no final. O filme é tenso e a perseguição é contínua.

Na vida cristã, diferente do filme, nós sabemos quem está atrás do volante do caminhão (o Diabo) e porque ele nos persegue sistematicamente (para nos fazer perder a eternidade ao lado de Deus). Agora resta a pergunta: será que somos perseguidos conforme explicitado nas Escrituras? O apóstolo Paulo frisa para o seu discípulo Timóteo em sua 2ª carta no capítulo 3 e versículo 12: “E também todos os que piamente (de modo piedoso, devoto, que apresenta excesso de certeza ou convicção) querem viver em Cristo Jesus (você em Jesus e Jesus em você) padecerão perseguições (atormentar, importunar, lutar contra)”.

A igreja apostólica tornou-se uma igreja perseguida. Ela saiu de uma aparente aceitação do povo (At.2.47; 5.13) para uma perseguição sistemática por contrariar seus ensinos e por pura inveja (At.4.1-3; 5.17,18). Essa perseguição podia se configurar desde açoites (At.5.40) e até mesmo em morte para um dos discípulos de Jesus (At.12.1-3). Nos dias em que vivemos, se alguém fala mal do Cristianismo, muitas vezes com razão (igreja We are Reino, criada para a elite de Balneário Camboriú, Santa Catarina), já achamos que estamos sofrendo perseguição. A verdade é que nós não fazemos nem ideia do que seja uma perseguição verdadeira.

Heresias da igreja We are Reino

__Tatuagem de Mt.24.14;

__Os fiéis só podem usar roupas claras;

__Os departamentos e jargões usados são todos em inglês;

__A recepção da igreja oferece soda italiana e café;

__Os cultos se assemelham com uma balada;

__A pregação é baseada em autoajuda e coaching;

__O pastor prega que a Bíblia não é inerrante.

Agora, de que forma se manifesta a perseguição na vida da igreja? A perseguição contra a igreja de Jerusalém se iniciou por parte do Judaísmo, que enxergava a nova fé como sendo um movimento periférico, uma seita. Os fariseus se opunham contra o movimento pois temiam a perda da tradição (eles estavam acomodados com o status alcançado), os saduceus se opunham contra algumas doutrinas, em especial contra a crença na ressurreição, que não acreditavam; os sacerdotes eram contra o fato de que agora não havia mais necessidade de sacrifícios nem de intercessor humano. Era um verdadeiro consórcio religioso.

O pai da igreja João Crisóstomo (347 – 407 d.C.) disse com muita propriedade em seu comentário de Atos: “Observe como toda a vida dos apóstolos é tecida a partir de coisas que são contrárias umas às outras. Assim, em primeiro lugar, o desânimo vem sobre eles por causa da separação do Senhor; depois, a alegria da descida do Espírito; novamente desânimo daqueles que os ridicularizaram; e depois a alegria pelos fiéis e pelo milagre. De novo o desânimo com a prisão e de novo a alegria com a defesa. De novo a tristeza e a alegria. Alegria, porque estavam radiantes e Deus se manifestava neles; tristeza, porque estavam matando os seus”.

A perseguição na igreja de Jerusalém também tinha o seu âmbito estatal. É o que vemos com a morte de Tiago e a prisão de Pedro. José Gonçalves citando David E. Garland, destaca: “Agripa I desejava cultivar o favor das autoridades judaicas, que provavelmente chamaram sua atenção para os apóstolos cristãos e o instigaram a persegui-los. Como elas receberam bem a decapitação de Tiago, Agripa I imaginou que houvesse encontrado um meio de aumentar seu apoio e planejou dar o mesmo fim a Pedro. Lucas não narra o que levou o povo a mudar sua atitude em relação aos discípulos em Jerusalém. É possível que o termo “judeus” (cf. 12.11) se refira à liderança religiosa e a seus partidários, e não ao povo de modo geral. Pode se supor que sua hostilidade nasceu de uma combinação da pregação revolucionária dos cristãos a respeito de Jesus como Senhor ressurreto e do fato de conquistarem convertidos, uma ameaça política à instituição religiosa.

Nesse episódio específico do capítulo 12 de Atos, vemos alguns detalhes interessantes: o seguir a Jesus não impediu a perseguição, e com ela a morte de um membro importante da comunidade (Tiago, filho de Zebedeu); a prisão de Pedro e o seu sofrimento no cárcere; mas ao mesmo tempo temos também alguma esperança: a de que a igreja necessita fazer oração contínua por aqueles que estão em perigo (talvez isso tenha sido aprendido em relação a Tiago), de que Jesus continua operando milagres inexplicáveis como o que aconteceu na libertação de Pedro e ainda assim, ele não ficou para ver a conclusão da história mas fugiu para outro lugar (At.12.17). E por último, importante frisar que a seu tempo, aqueles que perseguem a igreja serão enfim julgados pelo Senhor (At.12.21-23).

Assim como a igreja apostólica sofreu, não vemos muita diferença na história da igreja em torno dos séculos. Livros como História Eclesiástica de Eusébio de Cesaréia, Livro dos Mártires de John Foxe e As Catacumbas de Roma de Benjamin Scott relatam um pouquinho do que era a realidade dos cristãos nos primeiros séculos da era cristã. Cristãos morrendo queimados em postes como iluminação pública durante a noite, pessoas sendo devoradas por feras selvagens no coliseu romano, cristãos sendo perseguidos e se reunindo nos esgotos da cidade para cultuar, pessoas sendo flageladas, mortas a espada, escravizadas e separadas de seus familiares por amor a Cristo, e tudo isso Jesus já tinha antecipado (Lc.21.12-16). E a igreja com tudo isso só crescia! Assim como disse Tertuliano (160 – 220 d.C.): “O sangue dos mártires é a semente da igreja”.

O tempo passou, a igreja foi de movimento aos poucos se institucionalizando, com regras, normas, cargos, prédios, outros sacramentos, rituais, até que em 313 d.C., o imperador Constantino garantiu a liberdade religiosa no Império Romano, inclusive o Cristianismo, transformando-o na religião oficial do Império. A partir de agora, não só não era mais proibido ser cristão, como era até preferível, afinal, o próprio imperador havia se ‘convertido’. Essa foi a pior coisa que poderia ter acontecido com o Cristianismo, se tornar institucional. Após esse período, a história reserva um milênio denominado de Idade das Trevas, que vai do ano 500 até o ano 1500. O Cristianismo nesse período foi apático e palatável aos moldes do sistema vigente.

No ano de 1517, acontece um refresco na história do Cristianismo. A Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero (1483-1546) e ampliada por João Calvino (1509-1564), John Knox (1514-1572) e Ulrico Zwinglio (1484-1531). Esse período foi marcado por um retorno as Escrituras (Sola Scriptura), a salvação pela fé (Sola Fide), a graça divina (Sola Gratia), a importância de Cristo como único mediador entre Deus e os homens (Solus Christus) e a adoração somente a Deus (Soli Deo Gloria), além do sacerdócio universal dos crentes. C ada crente faz a ponte direta com Deus através de Cristo. Isso tudo foi revolucionário!

Já no início do século XX estoura o maior de todos os avivamentos, pelo menos em extensão: o avivamento pentecostal da Rua Azusa. Os dons espirituais foram distribuídos e manifestados assim como em Atos 2 e o fervor evangelístico e missionário se acendeu. Grandes pregadores como Billy Graham (1918-2018), Jimmy Swaggart (1935-2025), Reinhard Bonnke (1940-2019), A. W. Tozer (1897-1963) e Leonard Ravenhill (1907-1994) que tiveram seus ministérios na centralidade da Palavra de Deus e nos milagres (alguns deles). A pergunta que fica para meditarmos hoje é: o que a igreja de hoje mais necessita: de uma reforma ou de um avivamento? O que podemos dizer é que não tem como continuar do jeito em que está.

Bibliografia

EARLE. Ralph. MAYFIELD. Joseph H. Comentário Bíblico Beacon – João a Atos. Editora CPAD. Rio de Janeiro. 1ª edição. 2006.

NEE. Watchman. A vida cristã normal. Editora Fiel. São José dos Campos.

GONÇALVES. José. A Igreja em Jerusalém – Doutrina, comunhão e fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições. Editora CPAD. Rio de Janeiro. 1ª edição. 2025.

https://search.nepebrasil.org/

https://boullan.wordpress.com/2017/01/21/conversao-de-moedas-e-valores-tudor-para-atualmente/

https://www.otempo.com.br/brasil/2024/6/6/conheca-a--we-are-reino---igreja-luxuosa-que-e-alvo-de-criticas-

https://www.adorocinema.com/filmes/filme-5272/

Autor: Geisel de Paula