Lição 12 – O caráter missionário da igreja de Jerusalém
Texto base: Atos dos Apóstolos 11.19-30
A congregação de Jerusalém, a sede, estava cheia de grandes homens e mulheres de Deus: os apóstolos de Jesus congregavam ali, a família de Jesus como a sua mãe também fazia parte do grupo, muitos dos que foram tocados por Jesus durante o seu ministério estavam ali. O Evangelho do Reino de Deus precisava sair de Jerusalém e o que Deus faria para que isso acontecesse? Tudo, até mesmo estourar uma perseguição. “E todos foram dispersos pelas terras da Judéia e de Samaria, exceto, os apóstolos” – (At.8:1). Mas a vez deles ia chegar também.
Saulo de Tarso era o grande antagonista da igreja, aquele que se opunha a tudo aquilo que era, parecia ou cheirava a Cristo e seus discípulos. Ele mesmo consentiu na morte de Estevão. O Evangelho chega a Cesaréia e a Samaria (onde Pedro e João são enviados para averiguar) e as primeiras discussões sobre os judeus e os gentios começaram a ganhar corpo no seio da igreja. E dos que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estevão, alguns chegaram até a Fenícia, o Chipre, que é uma ilha e até a Antioquia, que é a da Síria, bem ao norte de Israel, mas estes que foram, não pregavam a Palavra a ninguém que não fosse judeu. Ainda não era isso o que Deus queria em relação ao anúncio do Evangelho de seu Reino.
Aplicação
Então, alguns cipriotas e de Cirene, entraram em Antioquia falaram com helenistas (estrangeiros), anunciando a Jesus. Eles estouraram a bolha. Em vez de se perguntarem por que fariam isso, já que todos só pregavam para judeus, eles se perguntaram: por que não? Fico me perguntando que tipo de preconceito era esse em relação a nós, não judeus. Sou levado a pensar que para um judeu aceitar a fé, metade do caminho já estava alcançado. Eles criam em Deus, no Antigo Testamento, na imortalidade da alma, na vida eterna, só precisavam agora aceitar a Jesus como o Messias aguardado. Os estrangeiros, não. Precisava explicar tudinho para eles, desde o Gênesis.
Fato é que a mão do Senhor foi com aqueles varões e um grande número creu e se converteu ao Senhor. Um trabalho promissor começou ali, sem a supervisão de nenhum dos apóstolos ou líderes da igreja nativa. Foi algo orgânico e surpreendente. Foi um início tão espetacular, que a notícia desse trabalho chegou ao conhecimento da igreja sede em Jerusalém. “Olha, tem algo notório acontecendo em Antioquia, com um monte de estrangeiros adorando o Senhor”. Assim eles resolveram enviar a José, (Barnabé - filho da Consolação), para averiguar as coisas e testificar se aquela obra era ou não era uma obra de Deus.
A Bíblia diz que quando Barnabé chegou a Antioquia ele viu a graça de Deus. Mas o que significa isso? Ver a graça de Deus? Desde quando a graça de Deus é visível? Ela é uma pessoa por acaso? O que foi que Barnabé viu? Barnabé foi o sujeito que quando aceitou a fé, vendeu uma herdade e deu o seu preço para os apóstolos como prova de amor para seguir a Jesus. O que eu quero dizer com isso? Que ele não se impressionaria facilmente. Ele viu milagres e prodígios acontecerem antes de chegar a Antioquia mas algo lá o impressionou. Não alguém específico, mas o todo, a coletividade.
Eu me pergunto, se a igreja sede enviar alguém aqui na Vila Galvão para ver o que está acontecendo, o que essa pessoa veria? Será que ela contemplaria a graça de Deus assim como Barnabé viu em Antioquia? O que alguém de fora enxergaria se nos visitasse? O que alguém de fora enxerga, espiritualmente falando, quando nos visita? Essa é uma pergunta coletiva. Mas podemos transformá-la em individual também. O que foi que Barnabé viu?
Barnabé viu os efeitos da graça de Deus na vida do povo em Antioquia. Barnabé viu a transformação que o Evangelho causa quando entra na vida de uma pessoa e ao que parece, todos lá foram transformados. Não existia essa de ‘eu sou crente mas não mexe comigo’, ou a velha natureza ainda se manifestando. O processo de transformação é radical! É uma metamorfose! Uma lagarta quando entra no seu casulo é feia e repugnante; mas depois da metamorfose sai uma linda borboleta colorida e com asas. É um outro ser, totalmente diferente do primeiro. Isso é verdadeiramente nascer de novo! Se a velha natureza teima em sair de dentro de você, é porque talvez você ainda não tenha sido transformado verdadeiramente. O que foi que Barnabé viu?
Barnabé viu a libertação de Deus em ação. A igreja deveria ter muitos ex-alguma coisa. Ex-alcoólatras, ex-feiticeiros, ex-prostitutas, ex-idólatras, ex-homossexuais, e não eram daqueles que ficavam contando testemunhos de sua vida pregressa, como vemos nos dias de hoje, quase que exaltando o que foram no Diabo, sendo o que realmente importa é o que você é em Deus agora! O que você foi no passado você pode resumir em poucas palavras, mas o que Deus tem feito na sua vida hoje é o que realmente importa. Como Paulo disse em sua carta aos Coríntios: “Alguns eram efeminados, sodomitas, ladrões, bêbados, mas haveis sido lavados, haveis sido santificados, haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus”! O que foi que Barnabé viu?
Barnabé viu a pureza e a singeleza no coração de todos. Eles viviam a inocência do primeiro amor. Eles não tinham nenhum dos apóstolos para os ensinarem, nem mesmo o menor deles, não tinham nem mesmo uma liderança constituída, mas não falta amor, não faltava graça, não faltava misericórdia, não faltava compaixão, não faltava gozo em servir a Jesus com todo sentimento. Não existia malícia. Não existiam Ananias e Safiras querendo mentir ao Espírito Santo, não existiam falta de cuidado com os órfãos e as viúvas e principalmente, não existia preconceito e discriminação contra quem poderia receber a mensagem de salvação. Todos eram igualmente bem-vindos. Não se fazia em Antioquia acepção de pessoas. O que foi que Barnabé viu?
O que ele viu o alegrou sobremaneira. A graça de Deus nos alegra! Se você chega aqui no culto e sai pior do que entrou, deve ser porque você não viu a graça de Deus em ação aqui. Quando você olha para as crianças, você enxerga a graça de Deus? Quando você olha para o grupo dos adolescentes você consegue ver a graça de Deus? Quando a juventude se levanta você vê a graça de Deus? Quando as irmãs do Círculo de Oração estão reunidas você enxerga a graça de Deus fluindo através delas? Quando você olha para a igreja, você vê a graça de Deus? Quando você olha para o púlpito, você enxerga a graça de Deus na vida de cada um deles? A graça de Deus é visível em nosso meio? O que você vê? A graça ou a desgraça?
Barnabé exortou, encorajou a igreja, a todo mundo, que continuassem exatamente assim, cheios da graça de Deus, com firmeza de coração, permanecessem no Senhor. Na sua simplicidade, essa congregação tinha algo que nem mesmo a sua sede em Jerusalém não tinha. Abundante graça. E isso era suficiente. Eles não precisavam de um som de última geração, não precisavam de cadeiras almofadadas, não precisavam de ar-condicionado, não precisavam de banheiros com mármore, não precisavam de estacionamento para acomodar seus carros. Eles tinham tudo o que era necessário para servir a Deus. Eles tinham a graça e ela era visível a todos que ali chegavam.
Conclusão
Barnabé gostou tanto, mas tanto do que viu, que saiu de Antioquia, passou em Tarso para buscar a Saulo. “A pessoa ideal para ensinar e aprender aqui”. Voltou para Jerusalém (a igreja sede), disse que tudo o que ele viu lá era de Deus, e solicitou a sua carta de mudança para a igreja em Antioquia. Ficar ao lado dos apóstolos devia ser muito bom, mas estar em um lugar onde todos estão vivendo a pureza do evangelho, na sua essência, de fato, não tem preço! A graça era visível.
A Bíblia diz que lá em Antioquia, depois de um ano, os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos. Essa palavra não nos causa muito impacto hoje, mas não se deixe levar por estar acostumado com a nomenclatura. De discípulos de Cristo para cristãos, ou seja, aqueles que se parecem com Cristo, de tanto agirem, falarem, pensarem, se portarem como Cristo, eram como pequenos Cristos, ou seja, cristãos. O apelido foi dado pelos de fora, provavelmente até de forma perjorativa, mas vocês acham que eles se importavam? Para eles era uma honra, se parecerem com o seu Mestre e Senhor. Com quem será que nós nos parecemos?
Foi também em Antioquia que apareceram depois de um ano, alguns profetas e doutores. Barnabé, Simeão, Lúcio, Manaém e Saulo. Sabe o que todos faziam na igreja de Antioquia? Serviam ao Senhor. Jejuavam. Oravam. E sabe o que acontecia? O Espírito Santo falava no meio da igreja. Igreja viva é onde o Espírito Santo tem liberdade para falar. O Espírito Santo só comunica quando ele é prioridade, quando ele é convidado, quando ele é honrado. Era uma igreja que furou a bolha e desejou compartilhar aquilo que eles já tinham com quem ainda não tinha. E eles estavam dispostos a dar o melhor que eles tinham, e não o pior. Pegaram o mais célebre entre eles (Barnabé) e o mais promissor entre eles (Saulo, que viria a ser Paulo).
A ideia seria replicar o case de sucesso de Antioquia em outros lugares, e assim foi feito. Temos notícias apenas das quatro viagens missionárias que Paulo fez, sem contar as outras de Barnabé e Marcos. Foram dezenas, talvez centenas de igrejas abertas em muitos lugares por todo o mundo conhecido da época. Claro que cada uma com seus problemas, com suas conjecturas, mas todas podiam olhar para o modelo de igreja de Antioquia, uma igreja que teve um início despretensioso, mas que se tornou um modelo que atravessou milênios e chegou até nós, e se hoje somos chamados de cristãos, é porque começou ali. Tudo isso porque lá naquele lugar em Antioquia, a graça de Deus era visível, e todos que ali chegavam, podiam ver com seus próprios olhos o efeito dessa graça. Eu oro para que a nossa igreja também seja assim.
Geisel de Paula
Bibliografia
EARLE. Ralph. MAYFIELD. Joseph H. Comentário Bíblico Beacon – João a Atos. Editora CPAD. Rio de Janeiro. 1ª edição. 2006.
NEE. Watchman. A vida cristã normal. Editora Fiel. São José dos Campos.
GONÇALVES. José. A Igreja em Jerusalém – Doutrina, comunhão e fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições. Editora CPAD. Rio de Janeiro. 1ª edição. 2025.
https://search.nepebrasil.org/
https://boullan.wordpress.com/2017/01/21/conversao-de-moedas-e-valores-tudor-para-atualmente/


